Quem lida com arquitetos, designers, projetistas, construtores e urbanistas, talvez nunca tenha ouvido falar tanto em retrofit como nos últimos tempos.
O termo em inglês nada mais é do que a popular “reforma”, mas com um sentido de customizar, adaptar e melhorar os equipamentos, conforto e possibilidades de uso de um antigo edifício. Mas porque reformar ao invés de fazer um prédio novo? Bem, há várias coisas a serem consideradas.
Com a tradução liberal de “colocar o antigo em boa forma”, (retro do latim “movimentar se para trás” e fit do inglês, adaptação, ajuste), a expressão retrofit tem sido amplamente empregada com o sentido de renovação e de atualização, mas mantendo as características intrínsecas do bem retrofitado.
Não se trata simplesmente de uma reconstrução, pois esta implicaria em uma simples restauração. Ao invés disto, busca-se o renascimento. No mundo da construção, a arte de retrofitar está aliada ao conceito de preservação da memória e da história.
A motivação principal é revitalizar antigos edifícios, aumentando sua vida útil usando materiais modernos. Essa prática é uma tendência na Europa, a fim de solucionar um problema: o que fazer com tamanha quantidade de edifícios antigos e históricos inutilizados, ou com tecnologias ultrapassadas que impossibilitam seu uso?
Atualmente, só no continente europeu cerca de 50% dos projetos são frutos de retrofit. Também é bastante usada nos Estados Unidos. Nestes países a rígida legislação não permitiu que o rico acervo arquitetônico fosse substituído, abrindo espaço para o surgimento desta solução que preserva o patrimônio histórico ao mesmo tempo em que permite a utilização adequada do imóvel.
Uma das principais vantagens do retrofit é valorizar o projeto no mercado imobiliário, além de torná-lo sustentável e apropriado para os tempos de hoje.
Como o retrofit tem sido colocado em prática
Prova disso é o projeto de sete alunos do curso de Design de Interiores do Senac, módulo 1 da matéria de decoração residencial da professora Yoko Hibino que tinham em seu trabalho esse conceito base como objetivo.
Para a matéria, eles tiveram que ir até o local de intervenção, realizar levantamento métrico e fotográfico de cada ambiente, verificar o conforto ambiental e as regras do condomínio. Depois deveriam entrevistar a cliente “faz de conta” que os instrutores selecionaram e ai então montar o conceito, o painel semântico (painel dos sentidos) e o painel de mobiliário, tudo de acordo com a entrevista da futura moradora e da visita ao imóvel. Por último, finalmente desenvolveram o projeto em diversas etapas pertinentes.
Aqui, a “cliente” era uma historiadora de 36 anos chamada Rafaela Lunardi que ganhou projetos baseados em descontração, lembranças, diversão, aconchego, energia, felicidade, misticismo e energia. Em seu perfil fictício ela falou estar na etapa final do doutorado e que planejava ter um filho após o término da graduação.
Também contou que possui muitos quadros, pratos e objetos de lembranças e decorativos. Ela disse gostar de MPB, de ler, de viajar, de receber pessoas e contou possuir uma gata chamada Amora, manifestando o desejo de ter mais um bichinho de estimação. Mostrou-se sendo uma pessoa alegre, descontraída, extrovertida, determinada e que gosta de aconchego.
Rafaela contou que gosta de cores vivas e fez pedidos como um escritório, muito espaço para guardar documentos e seus pertences, uma estrutura para gatos, um quarto de hóspedes que mais tarde poderia transforma-se em quarto de bebê, um lugar para expor seus cartões postais e a preservação de um rack da família que era de sua mãe.
O imóvel cedido pela Galvão para as aulas possuía diversas qualidades como os ambientes amplos, o pé direito alto, as janelas generosas e a localização central.
O Edifício Rosa Ângela Perrone está localizado no Centro da cidade entre as ruas Riachuelo e Barão do Cerro Azul e seu apartamento de 84.00m² conta com sala, cozinha, BWC social, três quartos, três sacadas, área de serviço e dependência de empregada.
“Em uma situação como esta o trabalho do designer de interiores é mais árduo e as relações de ambientes são mais complexas. Nesse caso, os alunos sofreram um pouquinho para realizar o levantamento métrico e depois passar para o software de desenho técnico devido as paredes angulares paralelas as vias e com um chanfro arredondado voltado a esquina, o que fez com que a atividade ficasse muito mais rica como forma de aprendizado. O resultado apresentado foi espetacular”, explicou a professora Yoko Hibino.
A designer e artesã especializada em pintura em tela e patchwork, Rosiméri de Fátima Costa Velho, 52 anos, decidiu cursar Design de Interiores no Senac porque sempre amou decoração. “Achei que havia chegado a hora de me aprofundar no assunto. O curso era como eu esperava e um pouco mais, pois vai além do simples decorar” conta.
Para ela a importância da Galvão ter cedido o apartamento para a matéria de decoração residencial foi essencial, pois assim pode colocar em prática o que já havia visto. “O trabalho final foi muito prazeroso porque visualizamos todo o projeto para um cliente real. É sempre bom trabalhar com um cliente, alegre, colorido e alto astral. Já as dificuldades ficaram por conta da falta de prática, pois além de projetar tínhamos que fazer cotações com valores reais de todos os itens incluindo a mão de obra”.
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